As saudades da quinta d'avó...

Agora vejo o quão já fui feliz.... quando era mais menina, os meus avós moravam numa quinta **e sim, pensem nessas quintas com direito a animais, campos, tratores e lida agrícola**. Passei lá muitas tardes a brincar, juntamente com os meus primos.
Tenho imensas e boas recordações desse lugar. Ele era mágico e eu nem tinha noção disso. Só agora é que o sei até porque os os meus avós saíram de lá, passaram para uma casa "normal" e nesta idade começo a lembrar-me de tudo aquilo **é Andreia, tu cresceste, estás quase a atingir a maioridade**.
A cozinha, lugar de um fumo divinal, era o lugar da grande mesa, dos bancos à camponês, do lar, do fumeiro pendurado e do forno de pedra. Comida feita ao lume e pão amassado na masseira e cozido naquele majestoso forno. E que ricas broas saíam dali feitas pela minha avó! **E já me enfarinheirei imensas vezes por lá** Nunca saía daquela quinta sem ter a roupa com cheiro a fumo do lar... não era agradável, mas agora deixa saudade.
Por lá não tínhamos internet nem computadores. Os brinquedos que lá haviam eram trazidos por nós (crianças) e outros tantos improvisávamos. Sabíamos fazer uma grande festa com pouca coisa.
Eu era feliz a correr por lá, a sujar a roupa **coitada da minha mãe que tanto resmungou**. Sentia adrenalina sem fazer desportos radicais... bastava entrar no galinheiro e ir sacar os ovos. Tinha quase que fugir das galinhas para não me picarem. 
Chegamos muitas vezes a pegar nas forquilhas, maiores do que nós, e ir levar a erva aos bois e às vacas. Calçávamos as galochas, cinco vezes maiores que os nossos pés, e a arrastá-las pelo chão de terra, lá íamos nós. Dávamos erva e ração, mudávamos a água e, ainda que na altura não fosse nada de especial, agora deixa saudade.
Tudo agora nos deixa nostálgicos, inclusive as idas aos espigueiros. Era tudo fantástico, brincar por lá era divino até ao momento em que um rato passava em sprint... fugíamos a sete pés até ao avô: "Olhó'rato!" **hoje é o dia que nos rimos de tal expressão**
As vindimas eram sinal de que ia de trator para os grandes campos levar os lanches da manhã e da tarde. Nesse dia, andávamos sorrateiramente pela adega e acabávamos sempre por entrar no lagar e pisar a uva. 
E as desfolhadas... as desfolhadas deixam ainda mais saudade porque agora já não se fazem tal coisa. Eram 30, 40, 50 pessoas sentadas em redor de um grande monte de espigas por desfolhar. Cantava-se e, de repente, surgia alguém de concertina na mão. Tínhamos festa até às tantas da manhã.
Nós, crianças irrequietas, tanto estávamos a desfolhar espigas como de repente já estávamos sentados em cima do monte de espigas a olhar para as pessoas. As espigas de milho rei **milho vermelho** foram muito raras, mas uma vez tive a sorte de apanhar uma... e que festa que foi para mim! A minha espiga ficou pendurada na cozinha da minha avó até ficar "estragada" e ter parado ao lixo.
Agora, olhando para trás, vejo que fui uma sortuda. Falando da infância com outros da minha idade, eu sinto-me orgulhosa por ter este passado. Houve quem soltasse um "quem me dera!" quando contava as minhas aventuras pela quinta da minha avó.
Hoje ainda passo por aquela quinta... para mim, ela será sempre a "Quinta d'avó" e nunca a Quinta da Ribeira. Hoje, aquele lugar mágico está ao abandono e vandalizado. Na família fere-nos a alma saber que aquele lugar acabou assim... foi ali que cresceram a minha mãe e os meus tios, onde se realizou o banquete do casamento dos meus pais e de praticamente todos os meus tios. 
Foi ali, naquele mundo, que fiz das maiores memórias que posso ter. Ali, eu cresci e aprendi que, com pouco, se pode fazer muito. 
O que para muitos pode ser banal ou até vergonhoso, para mim é motivo de orgulho. Faço parte de uma geração de família que ainda teve a sorte passar parte do seu crescimento numa quinta. Não parece, mas isso nota-se em certos atos. Olho para os meus primos mais novos, que nem sequer pisaram aquela quinta e denoto as lacunas da "Quinta". 
O Natal desde há seis anos para cá que não tem o fumo do lar nem o bacalhau com todos feito nas panelas já um pouco enfarruscadas pelo lar. Já não nos sentamos na grande mesa nem nos grandes bancos à camponês de metro e meio. 
Mas se há coisa que perdura... são os avós, os primos, tios e familiares. Ainda que hajam desavenças na família e que já não passemos esta quadra todos juntos, ora porque uns estão emigrados, ora porque não vêm simplesmente, ficam as memórias que nos fazem sorrir...

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2 comentarios

  1. Tens mesmo boas memórias na quinta da tua avó! Beijinhos e bom natal!

    http://the-not-so-girlygirl.blogspot.pt/

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