Parece que foi ontem...

... que estava a viver o primeiro dia de escola da minha vida. Lembro-me tão bem! Estava muito ansiosa, já sabia que muitos colegas da minha turma seriam os que me tinham acompanhado nos dois anos em que estive no jardim de infância. Era todo um fascínio para mim saber que iria começar a ler e a escrever "como os adultos".
Fui de mochila da Minnie às costas (acho que nunca tive tanto amor por uma mochila como por aquela), estojo do Mickey e todo o material cheio de cores. Abria os livros pela primeira vez e dava-me logo vontade de saber aquilo tudo.
A escola encontrava-se bem perto de casa, bastavam pouco mais de cinco minutos de caminhada e já lá estava. Nos primeiros tempos. a minha mãe ou a minha avó acompanhavam-me. Com o tempo. eu cresci e já ia e vinha sozinha, juntamente com mais dois coleguinhas - colegas esses que hoje em dia não temos contacto, ainda que estejamos na mesma escola.
Aqueles cadernos de duas linhas, onde se aperfeiçoava a letra, eram algo onde eu desenvolvi uma letra tão redondinha e bonitinha que a minha professora um dia me chegou a dar uma saquinha de chocolates. Mas que alegria que foi receber tal presente!


Sempre fui aluna de quatros e cincos e assim me mantive. O ensino básico chegou, troquei de escola e aí a rotina mudou. Já não dava para ir para a escola a pé e tive que me acostumar a acordar às sete e meia para ir de autocarro para a escola. Continuei a ter alguns colegas que me acompanham desde o jardim de infância, mas muitos outros entraram. Digamos que foi aí que surgiu o primeiro grande desafio de ter que lidar com tanta gente nova - até correu bem.
Por esses anos todos, ainda houve tempo pelo meio de ter ataques de ansiedade - e sabia lá eu o que por aí vinha - ataques de pânico nos testes, tomar calmantes e andar em psicólogos. Mesmo assim, o meu rendimento escolar manteve-se nos quatros e cincos.
Levava muitas vezes com o "Não largas por um bocado esses livros?" vindo dos de cá de casa. Um facto, é que eu já nessa altura passava muitas horas a estudar, ainda que muitas vezes fosse somente para entreter - achavam-me estranha por em tão tenra idade já passar tantas horas a estudar e não a brincar -, mas já nessa época tinha já alguns objetivos definidos - que ainda hoje se mantêm.
Com tudo isto e mais umas situações familiares à mistura, fui amadurecendo mais cedo que os demais e algumas patetices eu deixei de fazer a achar uma seca. E, com isto, fui perdendo amizades que já duravam há muitos anos.
Os anos foram passando e o nível de exigência, obviamente, foi aumentando; num piscar de olhos já estava eu no 9º ano. Exames nacionais, esse grande tema que parecia ser um pesadelo e que eu me saí lindamente. Foi por muito pouco - 2% - que não tive 5 no exame de matemática. Quatro nos dois exames e a bela sorte de o exame de inglês não ter entrado em vigor nesse ano - entrou apenas no ano seguinte.


Entretanto, veio a escolha para o ensino secundário e eu, pessoalmente, senti uma grande indecisão e pressão sobre aquilo que realmente pretendia.  Artes era carta fora do baralho - sou um desastre em desenho -, de Ciências e Tecnologias não gostava de Física e Química e Biologia - nunca tive grande interesse por ciências. Basicamente, este curso foi praticamente descartado.
Tudo ditava para que fosse para Línguas e Humanidades: todos os professores me diziam que eu tinha uma grande capacidade para as Letras, aprendia muito bem idiomas, interpretava bem textos de qualquer género, gostava de História e de escrever. Mas eis que um dia, quase já no fim do 9º ano, uma professora apanha-me no intervalo e falar com uns colegas meus sobre uma notícia - sobre Troika, FMI, o estado de Portugal na altura - e depois quis ter uma longa conversa comigo. Ficara impressionada sobre a forma como eu já falava daqueles temas, muita maturidade, dizia ela. Dizia-me ela que tinha mesmo feitio para ir para a política.
Fiquei de olho, então, no curso de Ciências Socioeconómicas, com algo chamado Matemática A que me deixava um pouco reticente. Ponderei, ponderei, e no dia em que ia entregar o papel com o curso escolhido - que já tinha X em Línguas e Humanidades - mudei para Ciências Socieconómicas.
E assim foi, lá fui eu para esse curso com o medo à Matemática. Daí, começou aquilo que eu digo ser a escolha mais imprevisível, mas também a mais acertada (ainda que com muita coisa má a misturar) em toda a minha vida.

** E em breve chega o relato desta minha aventura no ensino secundário**

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